Na manhã do dia 4 de novembro, a EBS do Vale do Âncora recebeu a visita do presidente da Associação de Pescadores Profissionais e Desportivos Vila Praia de Âncora, Sr. Vasco Presa, pescador de profissão ao longo dos últimos 50 anos. Escolheu esta profissão porque os seus antepassados, pai e avó, já eram pescadores. Segundo ele “As vantagens desta profissão é a liberdade, o trabalho todos os dias é diferente, permitiu-me conhecer muitos locais diferentes e sociedades…”. As desvantagens “Regulação das cotas do pescado, ainda existe muito por fazer para que os pescadores possam ter os direitos que outras profissões têm…”.
Através desta conversa os alunos ficaram a saber que existe um fenómeno mágico “Quando não há Lua, está tudo escuro no alto mar, conseguem-se identificar todas as espécies que nadam no mar, pois estas têm um efeito refletor, criam uma luz, parece um foguete, isto acontece devido à salinidade da água…” referiu o Sr. Vasco.
No
âmbito da temática do tema “Sardinha de Abril é vê-la e deixá-la ir” o Sr.
Vasco explicou que existem duas artes diferentes de pescar a sardinha:
.Cerco - Rede longa e alta largada de uma
embarcação e manobrada de forma a envolver o cardume e a fechar-se sob a forma
de bolsa.
.Emalhar pelágica - Rede com boias numa extremidade e pesos na oposta, que é lançada à água num local onde se saiba haver cardumes de peixe a nadar, os quais ficam "emalhados" ou seja, presos nas malhas da rede, normalmente pelos espinhos ou opérculos.
O Sr. Vasco contou que a pesca de sardinha através da arte de emalhar pelágica teve a sua origem na Galiza, Espanha, há cerca de 300 anos. Referiu “…uma família vinda da Galiza trouxe esta arte para Portugal”. Informou que em Vila Praia de Âncora existem 4 embarcações à pesca de sardinha e 9 licenciadas. Disse ainda que, em Caminha não há nenhuma.
Quanto ao cerco, no distrito
de Viana do Castelo, só existem duas traineiras portuguesas cujos donos são espanhóis
e que estas estão ancoradas em Viana do Castelo.
Nem imaginam o que descobrimos!!! Segundo o Sr. Vasco “as duas traineiras ancoradas em Viana do Castelo, são as duas embarcações de que se tem falado nas notícias…”. Também nos explicou que nas noticias falam de coimas, máximo a pagar, mas na realidade pagam quase sempre o mínimo, ou seja, muito pouco.
Ficamos a saber que na arte
de cerco aparecem várias vezes golfinhos “...eles são desafiantes na
velocidade…se não os libertarmos rapidamente morrem asfixiados no cerco…” salientou
o Sr. Vasco.
O Sr. Vasco contou que no cerco são capturados dezenas de toneladas de cardumes de sardinha e outros cardumes, como por exemplo, biqueirão (em Portugal só existe enlatado, mas na Espanha come-se fresco), robalos, sargos, corvina, carapau, cavala… segundo ele “…a cavala e a pota são muito usadas para isco nos covos, na pesca de espadarte…”.
Mas afinal o que é feito à sardinha que é aprendida?Existem diferentes
situações:
-Se houver excesso de
captura abordo, no alto mar, tem de se deitar o peixe ao mar, esteja morto ou
vivo;
-Se a apreensão for feita na
zona de descarga o peixe pode ser vendido na lota e o dinheiro reverte para o
estado, mas isso não evita que se pague a coima;
-Se o peixe for apreendido
em terra e não cumpre as medidas de lei é dado às instituições;
-Se o peixe for apreendido
quando é proibida a sua captura “fora de cota”, também é oferecido às
instituições.
Algumas citações do Sr. Vasco Presa…
“Houve
ciclicamente crises na pesca de sardinha, em 1975 e 1976, não se trabalhou à
sardinha, porque não havia, depois já houve imensa.”
“Na
arte de emalhar a sardinha é tirada uma a uma da rede, o que faz com que as
últimas já estejam moles e vão para o isco.”
“Atualmente
existe muito sardinha, mas não foi devido aos confinamentos do COVID, foi a lei
que foi bem aplicada.”
“Um
homem tem de trabalhar 8h por dia, durante um mês, para fazer uma rede de
emalhar e não custa menos de 1000€.”
“Se
a rede tocar em rochas destrói-se toda.”
“…depois
de começar a tirar a sardinha, um homem, está quase 5h a sacá-las sem mexer os
pés, só mexe o corpo da cintura para cima.”
“…com
a mão esquerda puxa-se a rede para dentro da embarcação e com a direita pega-se
na sardinha…”
“Para
tirar a sardinha da rede é necessário muito jeito, por isso, os espanhóis
chamam a esta arte «xeito».”
“Emalhar
pelágica significa que se move com a corrente.”
“No
passado a sardinha era a comida dos pobres e agora dos ricos. Havia muita
quantidade, agora devido às leis não se pode pescar muito, logo é mais cara.”
“…a
sardinha portuguesa é a melhor que há, viajei e provei sardinha em vários
locais e a nossa é a melhor em termos de sabor.”
“Antigamente
a sardinha era conservada apenas no sal, agora pode se congelar ou enlatar, mas
normalmente é comida fresca.”
“A
petinga tem quantidades acessíveis em cota quando está aberta. Em Espanha
dentro das rias é autorizada a sua pesca a algumas embarcações. Há duas noites
fui a Vigo e vi cerca de 10 toneladas de petinga na lota.”
“Todos
os peixes desovam mais cedo com as águas mais quentes. Este ano tivemos uma
altura em que as águas atingiram aproximadamente 20oC.”
Descubra tudo através da sua visualização dos vídeos.
Os nossos agradecimentos ao Sr. Vasco Presa.